Paredão da Chapada dos Guimarães-Mt - Foto: Padilha
Ir:.A:.M:. CHARLLES CABRAL DA SILVA
SANTO ANTONIO DE LEVERGER – MT
ANO DE 2009 DA E:. V:.
Embora o título acima expresse dois objetos distintos, ambos estão intrinsecamente relacionados, como demonstrarei mais adiante.
Ir:.A:.M:. CHARLLES CABRAL DA SILVA
SANTO ANTONIO DE LEVERGER – MT
ANO DE 2009 DA E:. V:.
Embora o título acima expresse dois objetos distintos, ambos estão intrinsecamente relacionados, como demonstrarei mais adiante.
Procurarei demonstrar a importância da Lei Iniciática do Silêncio e seu corolário, o Segredo Maçônico, na obtenção do objetivo maior do ser humano: o auto-conhecimento, ou seja o atingimento de sua totalidade psíquica, através de um processo designado pelo médico suíço Carl Gustav Jung como “Individuação”, sendo este o tema central de sua psicologia analítica.
A PISICOLOGIA
Segundo Jung, resumidamente, a Individuação constitui-se num processo de desenvolvimento da psique de um estado infantil, referenciada em apenas alguns aspectos superficiais de sua totalidade, em direção a uma expansão da consciência, tendo como meta a ser alcançada uma maior diferenciação do “si mesmo”. Desta forma passando o indivíduo a se identificar menos com os valores e referências do meio em que vive, e mais com as características advindas de sua personalidade individual.
Esse processo se dá na confrontação do “consciente” com o “inconsciente”, de forma que a consciência se concentre nas manifestações e atividades dos conteúdos inconscientes de forma a melhor compreender, aceitar e “controlar” o que antes era inconsciente e autônomo.
Em suas palavras, Jung relaciona esse processo à formação de símbolos:
“A individuação trata de processos vitais, através dos quais a personalidade em formação atinge o seu centro no inconsciente, e que, por seu caráter numinoso, serviram desde os primórdios de estímulo fundamental para a formação de símbolos.” (MSR).
Jung faz analogia entre as religiões de mistérios e os rituais iniciáticos que surgiram ao longo dos tempos, e traça paralelos entre sua tese e o modo de vivenciar este processo pela Alquimia, na qual, pelas sucessivas combinações, obtém-se o “ouro filosófico”, buscando o desapego dos objetos, o que na filosofia Hindu denomina-se “Nirvana”.
Os sistemas de simbolismo são representações de diferentes formas e perspectivas de se considerar um conteúdo autônomo da realidade interna, de maneira a proporcionar uma maior consciência de nós mesmos em abstração ao meio.
A Lei Iniciática do Silêncio e o Segredo Maçônico, enquanto símbolos, tornam-se instrumentos eficazes nesse processo, conforme demonstrado em meu trabalho anterior: “O Simbolismo Maçônico como Instrumento de Aprendizagem”.
Jung explica:
“A melhor maneira do indivíduo se proteger do risco de confundir-se com os outros é a posse de um segredo que queira ou deva guardar... segredos que só são conhecidos ou compreendidos pelos que têm o privilégio de iniciação... A necessidade de cercar-se de mistério é de importância vital no estágio primitivo, pois o segredo compartilhado constitui o cimento de coesão do grupo. No estágio social, o segredo representa uma compensação salutar da falta de coesão da personalidade individual... A sociedade secreta é um estágio intermediário ao caminho da individuação: confia-se, ainda, a uma organização coletiva a tarefa do indivíduo ficar de pé, por si mesmo, e ser diferente dos demais.” (MSR).
Contudo, Jung afirma que, a longo prazo, agarrar-se ao “misterioso”, prejudica o processo de individuação de se completar, criticando-o com veemência, sendo imprescindível apenas nos primeiros estágios, como “instrumento”.
Creio eu que se aplica com perfeição ao caso do Aprendiz Maçom, onde a Lei Iniciática do Silêncio e o Segredo Maçônico são abordados como símbolos da maior importância.
OS MISTÉRIOS
Desde a mais longínqua Antiguidade, o conhecimento filosófico e religioso tem sido transmitido de duas formas: a primeira, exotérica, destinada às massas, ao indivíduo comum, sendo de fácil entendimento e adequado ao contexto da organização social vigente; e àqueles cuja capacidade de entendimento e aptidão para discernir com lucidez as coisas sagradas e relevantes, o conhecimento era transmitido esotericamente, ou seja, de forma secreta, restrita aos “iniciados”, que gradualmente iam recebendo as instruções na medida em que assimilavam o conhecimento já adquirido, dentro de uma tradição oral.
Não se pode constatar com rigor histórico na literatura profana a extensão e os detalhes desses rituais de iniciação, mas sabe-se que eram resguardados pelo mais absoluto segredo e, quando esse conhecimento era mencionado, nos antigos textos sagrados, utilizava-se de alegorias e símbolos.
Os textos antigos relativos a tais “Mistérios” chegaram até a época atual através descobertas arqueológicas, ou surgindo de tempos em tempos nas mãos de colecionadores de antigüidades, e comercializados num “mercado negro” altamente lucrativo, tem sido, na época moderna, objeto interesse de grupos poderosíssimos devido às revelações dos segredos descritos em seu conteúdo. O Silêncio é o pressuposto básico na manutenção desse conhecimento secreto e também é imprescindível na obtenção de tais documentos. Nunca se sabe ao certo quem está vendendo ou comprando. São utilizados, para isso, intermediários que se encontram secretamente, jamais sendo revelada a fonte e o destinatário dessas negociações.
Michael Baigent em seu livro Os Manuscritos de Jesus, comenta:
“Obviamente existiam no antigo Egito certos mistérios cultuais que apenas os iniciados conheciam. A partir dos primeiros registros, é possível constatar que... nesses templos, tanto homens como mulheres eram iniciados em seus segredos, embora também fossem orientados a manter segredo sobre o que viam. Com efeito, mantinha-se silêncio sobre tudo o que se relacionava aos segredos do templo. Entre os muitos textos extraídos das paredes do Templo de Hórus em Edfu consta o aviso direto: ‘Não revele o que você viu dos mistérios dos templos’.” (OMJ, pag.160/161, 169).
Mais à frente Baigent assevera:
“O seu conhecimento se soma a muitos outros indícios da existência de ensinamentos esotéricos e místicos ministrados secretamente dentro do Cristianismo. No final do século II, porém, esses ensinamentos foram relegados a segundo plano. Foram rebaixados e tiveram sua validade rejeitada até que caíssem no esquecimento... e (sugere) duas razões para isso: primeiramente, como os mestres hereges adotaram os ensinamentos esotéricos quando as heresias foram condenadas, os ensinamentos secretos foram igualmente condenados. Em segundo lugar, percebeu-se que para intensificar seu apelo universal, o cristianismo precisava se livrar de quaisquer doutrinas inacessíveis à massa dos fiéis. Ao mesmo tempo, com a ascensão dos evangelhos escritos, a tradição oral, até então o principal veículo de difusão dessas tradições secretas, perdeu sua importância.” (0MJ, pág.235).
Daí o motivo pelo qual esses textos antigos adquirem tanto valor comercial. Não só pela sua antigüidade, mas sobretudo pelo conteúdo secreto que eles encerram, lançando luz a um passado de mistérios, envolvendo crenças atuais sedimentadas como verdade absoluta.
Como vimos, a Lei do Silêncio é uma consequência direta da existência de um conhecimento secreto relacionado à iluminação subjetiva que, obviamente, é sentido por cada indivíduo de maneira diferente uns dos outros.
Tais ensinamentos eram ministrados por todas as fraternidades iniciáticas da Antiguidade, as quais impunham drasticamente a Lei do Silêncio com o objetivo de salvaguardar o Segredo.
A MAÇONARIA
Na época operativa da Maçonaria, esta era possuidora de segredos. O talhador de pedra era detentor de um conhecimento específico relativo ao bom desempenho de seu trabalho. E com isso, era possuidor de uma diferenciação na sociedade, de forma que os sinais de reconhecimento mútuo constituíam, também, um segredo guardado com zelo.
A Maçonaria especulativa, sociedade iniciática herdeira dessa tradição e desse conhecimento, manteve a obrigatoriedade do segredo, resultando do fato de que, sendo seus membros solidários entre si, estabeleceu-se um contrato formal de reciprocidade e utiliza, também, a Lei do Silêncio e o Segredo como ferramenta básica, num processo de aperfeiçoamento da personalidade do homem. Nesse processo o aprendiz deve apenas ver, ouvir e calar, num exercício constante, obrigando-o a disciplinar suas idéias.
Esta rígida disciplina é o motivo pelo qual deixam sem réplica ou defesa, tanto no passado como hoje, ataques e calúnias dirigidas à Ordem e aos seus membros.
Nos dias atuais, a palavra segredo foi tomada como um símbolo de discrição e, como símbolo, está sujeito a uma interpretação subjetiva, tornado-se um segredo pessoal, implicando desta forma na obrigação ao silêncio. E a melhor maneira de se manter um segredo, é fazer silêncio em torno dele.
Citando Nicola Aslan:
“A Lei do Silêncio nada mais é, portanto, que um perpétuo exercício do pensamento. Calar não consiste somente em nada dizer, mas também em deixar de fazer qualquer reflexão dentro de si, quando escuta alguém falar.”(CRA, pág. 319).
Assim procedendo pode-se compreender melhor a idéia passada pelo orador, sem se distrair com seus próprios pensamentos, e depois, refletindo sobre o que ouviu, encontrar-se-á a verdade em suas conclusões.
Não é necessário dizer que tal disciplina não é fácil. Implica em treinamento e exercício, visto que no mundo profano estamos acostumados a manifestar nosso pensamento e combater as idéias livremente. Deste sacrifício resulta, para o Maçom que o pratica, benefícios morais e espirituais de inestimável valor, que o auxilia no desbaste da “Pedra Bruta”.
Citando Oswald Wirth, Nicola Aslan escreve:
“Proibir-se a si mesmo de falar, para limitar-se a ouvir, é uma excelente disciplina intelectual, quando se quer aprender a pensar. As idéias amadurecem pela meditação silenciosa, que é uma conversa consigo mesmo. As opiniões raciocinadas resultam de debates íntimos, que se realizam no segredo do pensamento. O sábio pensa muito e fala pouco.” (CRA, pag.330. grifo meu).
Com base nesses ensinamentos, vemos que a disciplina do Aprendiz Maçom, está limitada ao silêncio e à meditação. No princípio, aos aprendizes, era proibido conceder a palavra em Loja. Embora hoje essa proibição seja tácita, é exigida de forma simbólica e deve ser mantida para se atingir os objetivos almejados.
De outra feita, e segundo orientação de Edouard E. Plantagenet, as sessões do Primeiro Grau são destinadas precipuamente para a instrução dos Aprendizes, sendo de todo inoportuno tratar de assuntos que nada têm a ver com este objetivo e, se assuntos de outra natureza estiverem sendo discutidos em Loja, o Aprendiz deve abster-se de se manifestar, e menos ainda, envolver-se em discursos, o que só demonstraria falta de humildade de sua parte. Contudo, aos Aprendizes, é dado o direito de voz e voto. É lícito ao Aprendiz pedir a palavra para fazer perguntas, que servem para sua instrução e obriga aos Mestres estudar para que não fique sem resposta.
Portanto a Lei do Silêncio é uma disciplina de suma importância. Falar muito implica em pensar pouco, e o objetivo da Maçonaria é tornar seus adeptos mais pensadores que faladores, visto que a verdade não se obtém com muitas palavras e discussões, mas sim pelo estudo e pela reflexão.
Nas palavras do Ir:. L. Cousseau, em seu trabalho “O Maravilhoso Ensino Maçônico”:
“O aprendizado é o período de meditação e de silêncio. O Aprendiz não pode tomar a palavra se não a convite do Venerável...
Para estar em situação de entender o conteúdo interior da linguagem quando ela se torna simbólica, é essencial aprender previamente a ouvir. Ouvir é uma ciência...
Mas há, nesta Lei do Silêncio, algo de mais importante. Aprendendo a refrear o desejo de falar, o Aprendiz pratica, consciente e inteligentemente, a conservação de forças que seriam desperdiçadas. Pouco a pouco ele controla seus impulsos e esta força que poderia ser gasta, fazemo-la nossa.
Esta prova tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio de si mesmo. Não esqueçamos que só um homem capaz de guardar silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor.” (CRA, pag. 339).
Mais adiante Henri Durville preceitua:
“Não digas senão poucas palavras. Não faças gestos inúteis. Para que servem estes movimentos vãos? Se tens necessidade de afirmar a ti mesmo a tua própria vontade, antes de dizê-la aos outros, é que és muito pouco teu próprio senhor...
Os movimentos musculares e os pensamentos estão em estreita correlação. Os grandes nervosos estão fisicamente agitados porque seus pensamentos se sucedem em seus cérebros sem tempo para produzir frutos...
Aprenderás assim a melhor conhecer os homens ao ouvir suas conversas e ao estudar seus gestos, e lá, como em outra coisa, este novo conhecimento há de trazer-te uma nova felicidade.
Entra, novo iniciado, no Templo aberto diante de ti. Compreenderás o significado da estátua de Ísis que medita, um dedo sobre os lábios.” (CRA, pag.341/342).
Entra, novo iniciado, no Templo aberto diante de ti. Compreenderás o significado da estátua de Ísis que medita, um dedo sobre os lábios.” (CRA, pag.341/342).
BIBLIOGRAFIA
Jung, Carl Gustav. Memórias, Sonhos, Reflexões. Ed. Nova Fronteira
Baigent, Michael. Os Manuscritos de Jesus. Ed. Nova Fronteira
Aslan, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz. Ed. A Trolha
Jung, Carl Gustav. Memórias, Sonhos, Reflexões. Ed. Nova Fronteira
Baigent, Michael. Os Manuscritos de Jesus. Ed. Nova Fronteira
Aslan, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz. Ed. A Trolha
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