A:.M:. CHARLLES CABRAL DA SILVA
INTRODUÇÃO
Foi-me concedido o privilégio de escolher um tema para desenvolver meu segundo trabalho como Aprendiz Maçom. Digo privilégio no sentido de que, a meu ver, a liberdade de escolha é o pleno exercício da faculdade suprema do ser pensante: o livre-arbítrio.
De início, pensei em escolher dois ou três instrumentos de trabalho, ou outro símbolo da Maçonaria, pesquisar e discorrer sobre o assunto. Contudo, considerei que não poderia ir além da simples repetição do já foi dito com maior sabedoria pelos Mestres, e embora certamente pudesse aprender alguma coisa nova, isso seria limitado ao objeto escolhido.
Então me vi em grande dificuldade: o que escolher? E a dúvida me levou a pensar e refletir sobre o que realmente me interessava. Sobre qual assunto eu gostaria de me aprofundar... E o interessante é que, neste processo de dúvida e reflexão, aprendi algo muito importante. Aprendi que a liberdade de escolha nos obriga a pensar e refletir, ponderar e avaliar as vantagens e desvantagens desta ou daquela decisão. De forma que ficou claro que seja qual for a decisão, ela implica na responsabilidade única e exclusiva de quem decide, já que, sendo de caráter subjetivo, traduz-se em ação da qual não se pode atribuir culpa nem mérito a outrem, apenas a si mesmo.
De posse desse conhecimento que acabara de adquirir, foi fácil estabelecer o tema, pois me lembrei que já havia lido que a Maçonaria utiliza de símbolos e alegorias para transmitir conhecimento, ensejando ao iniciado o exercício da reflexão, do pensar por si mesmo. Exercício que praticara na tarefa de fazer uma escolha. Desta forma escolhi o tema: O Simbolismo Maçônico Como Instrumento de Aprendizagem.
A UTILIDADE DA SIMBOLOGIA
Porque a Maçonaria utiliza este método de ensino, baseado em símbolos e alegorias? Não seria mais simples se estabelecer fórmulas ou dogmas para transmitir conhecimento? Ora, após refletir sobre essa pergunta, concluí que a religião e a ciência já o fazem. E o resultado é que raramente produzem conhecimento novo, apenas geram repetidores de idéias pré-concebidas, destinados a fazer proselitismo, ou formam técnicos aptos a executar tarefas mecânicas. Poucos são os filósofos e cientistas de verdade.
Já na Antiguidade, Platão considerava o conhecimento como algo vivo e dinâmico, e não como um sistema de doutrinas pré-adquiridas e retransmitidas. O conhecimento verdadeiro só é adquirido por meio da busca inquietante, da reformulação constante das questões e da multiplicação dos modos de abordagem dos problemas. Ou seja, um esforço contínuo para se pensar mais profunda e claramente.
O ato de pensar, racionalmente, advém da ignorância, ou seja, da falta conhecimento que se expressa pela dúvida. Daí os questionamentos: Quem sou? De onde vim? Por que existo?
Descartes descobre sua primeira verdade partindo da dúvida, pois o fato de pensar revela a existência de algo que pensa: “O que é este algo? Sou eu. Penso, logo existo. A minha própria dúvida demonstra a minha existência de duvidador. De outra maneira, nem a própria dúvida poderia existir.” Estabelece assim, como princípio, duvidar de tudo, rejeitando como absolutamente falso tudo que pudesse conter a menor parcela de incerteza.
Embora sua linha de raciocínio seja base do racionalismo, que é contrário ao método de ensino através dos símbolos, parte do mesmo princípio, o de que o duvidar, o pensar e refletir, são o alicerce da edificação do conhecimento.
Quando o Aprendiz lê uma instrução, ou estuda um determinado símbolo, pesquisa as diferentes interpretações dos vários autores maçônicos, percebe nuanças e gradações, variações diversas sobre o assunto, de forma a instigar sua imaginação a buscar a interpretação que mais lhe inspire verossimilhança e contemple a sua razão. Ao analisar essas pequenas diferenças tira suas próprias conclusões e estabelece a sua verdade, que jamais será absoluta, no instante em que se torna ponto de partida a novas indagações, constituindo um processo no qual o aprendizado se torna eterno (polimento da Pedra Bruta) e o saber um ideal (a Pedra Polida).
Desde a Sessão de Iniciação o candidato se depara com uma farta simbologia, rica em detalhes e fases, seja na decoração do Templo, seja nos discursos e passagens do cerimonial. Esta simbologia, a princípio destituída de sentido pela ignorância do profano quanto aos Ritos e a significação das imagens e alegorias, torna-se, com o tempo, o meio comum com o qual se transforma num iniciado real, ou seja, aquele que a estuda com fito de dominar e vencer as paixões e as fraquezas humanas. Mais ainda, objetivando compreender o real sentido da vida.
A propósito, Nicola Aslan ensina: “... a Iniciação Real só se pode ser conseguida por aquele que se torna seu próprio Guia, Mestre e Iniciador. Se o Candidato for ‘iniciável’, cedo ou tarde compreenderá; senão, jamais poderá conseguir transpor os umbrais da Iniciação que, para ele, permanecerá indefinidamente simbólica, mesmo depois de muitas décadas dentro da Instituição.” Verifica-se daí, que toda essa simbologia tem um objetivo prático, bem definido, qual seja, o de produzir o aprendizado necessário para transformar um homem comum num homem de elite. AS FONTES DA SIMBOLOGIA MAÇÔNICA
Com o declínio da Maçonaria Operativa, onde o estilo gótico foi substituído pela Renascença, foram introduzidos na instituição os chamados Maçons Aceitos, geralmente membros da Aristocracia, homens cultos e preocupados em corrigir as deficiências morais e recuperar a sociedade corrompida pela imoralidade derivada de mais de dois séculos de lutas político-religiosas. E tornaram-se, com o passar do tempo, a maioria dos membros das lojas, elevando o nível intelectual da instituição. Indubitavelmente os Rosacrucianos, por volta dos princípios do séc. XVIII foram os responsáveis pelas modificações paulatinas do Ritual, transformando aos poucos a “recepção” dos novatos em “iniciação” propriamente dita.
A Bíblia e a Cabala são a fonte do mais rico manancial de onde foram baldeados os elementos do Simbolismo Maçônico. Da mesma forma, o Ocultismo com seus sistemas filosóficos, e as Artes dos Mistérios, advindos do conhecimento dos povos antigos, também contribuíram substancialmente com este Simbolismo.
Os conteúdos esotéricos dos colégios iniciáticos da Antiguidade, e dos quais a Maçonaria é herdeira, eram a base do ensinamento ministrado sob a forma de Ritos e Símbolos. Os gestos e a encenação eram considerados muito mais eloqüentes que as palavras, pelo fato de que neles estavam contidos os princípios que deveriam ser adivinhados, forçando o iniciado a raciocinar, a pensar, e retirar de si mesmo o fruto do conhecimento.
Dos Maçons operativos permanecem as colunas arquitetônicas e as ferramentas profissionais, bem como algumas figuras geométricas. De origem mágica temos como exemplo o Pavimento Mosaico, as velas, o incenso e as espadas. Já a Câmara das Reflexões guarda os símbolos Herméticos dos quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo. Da Numerologia a Maçonaria herdou o esoterismo dos números: o número três, por exemplo, está intimamente ligado ao Grau de Aprendiz, demarcando a idade, a marcha, a bateria, o toque, etc. O Delta Sagrado, o Tetragrama, o Selo de Salomão e as Palavras Sagradas e de Passe, são elementos advindos da Cabala. A Astrologia está representada na abóbada celeste e nas doze colunas zodiacais e, ainda, a Quiromancia é revelada nos toques.
Esta rica simbologia, migrada das mais diversas procedências, é o guia para a mente atenta do Maçom que realizou a iniciação real e interior.
Nos dias atuais, em que o progresso científico se expande em todas as áreas, e os conhecimentos humanos se multiplicam indefinidamente, o racionalismo, baseado na observação metódica, apenas valoriza o que é preciso, fixado e estabelecido como verdade, se expressa como inimigo de todo simbolismo, o qual se limita a sugestões imprecisas e dirigidas ao imaginário. Desta forma, muitos são os que, imbuídos deste sentido científico-positivista, passam por cima do simbolismo permanecendo na Maçonaria sem compreender o seu valor, continuam com suas idéias e objetivos meramente profanos, ou então se retiram da instituição por não encontrar motivação e correspondência às suas aspirações. O CARÁTER ESOTÉRICO DA SIMBOLOGIA MAÇÔNICA
Os povos da Antiguidade ministravam um ensinamento religioso formal e repleto de atividades sagradas às grandes massas. Contudo, paralelamente, ensinavam de forma interiorizada e oculta estes mesmos princípios religiosos, com mais profundidade, aos homens dotados de moral e espiritualidade dignas de recebê-los. E a essa ensinança especial denomina-se esotérica, interior.
A Doutrina Esotérica é essencialmente iniciática, pois é unicamente atingida por aqueles que são iniciados, ou seja, que ingressaram num estado de consciência interior, no qual ela pode ser reconhecida, compreendida e realizada, tornado-se uma Verdade Universal, que é ao mesmo tempo Ciência, Filosofia e Religião.
Esta Doutrina Universal é, ainda, ministrada pela Maçonaria. O esoterismo e o simbolismo, que foram a essência de todas as doutrinas iniciáticas do passado, continuam sustentando, como verdadeiros pilares, todo o conteúdo do ensinamento maçônico. São a receita transmitida pela tradição aos obreiros dos dias atuais.
Oswald Writ comenta: “... as lutas religiosas sempre caracterizaram aqueles períodos durante os quais, pela imensa maioria de seus dirigentes, foi perdida de vista aquela essência interior que constitui o espírito da religião, sendo compreendido unicamente o aspecto profano e exterior. Pois o fanatismo sempre tem sido acompanhado da ignorância.”
CONCLUSÃO
O novo Maçom inicia sua trajetória como aprendiz, e nesta qualidade limita-se a acumular conhecimentos práticos e teóricos, litúrgicos e ritualísticos, simbólicos e filosóficos. Conhecimentos que lhe proporcionarão, quando chegar a Mestre, a cultura indispensável ao bom desempenho de suas atividades.
Desta forma pretende a Maçonaria, através de seu ensinamento baseado na Simbologia e Ritualística, transformar profanos em iniciados, cujos objetivos consistem em empreender esforços para seu próprio aperfeiçoamento, em benefício de seus semelhantes. Pois o desenvolvimento moral e intelectual próprio é a primeira condição para que se possa trabalhar para os outros. Para isto o Aprendiz impõe a si mesmo rigorosa disciplina no sentido de controlar e dirigir seus atos, gestos, e sobretudo, palavras, evitando todo e qualquer tipo de excesso.
Para finalizar, extraí parte do Discurso aos Novos Iniciados, dirigido por Oswal Wirth, e constante do prefácio da Edição de 1931 do seu “Livre de L’Apprenti”.
“Ao iniciar-vos em seus mistérios, a Maçonaria convida-vos a vos tornardes homens de elite, sábios ou pensadores, erguidos acima da massa que não pensa.
“Ao iniciar-vos em seus mistérios, a Maçonaria convida-vos a vos tornardes homens de elite, sábios ou pensadores, erguidos acima da massa que não pensa.
Não pensar, é consentir em ser dominado, conduzido, dirigido e tratado demasiadas vezes como besta de carga.
É por suas faculdades intelectuais que o homem distingue-se do bruto. – O pensamento torna-o livre: dá-lhe o império do mundo. – Pensar é reinar.
(...)
A intelectualidade moderna não pode continuar a debater-se entre dois ensinamentos que um e outro excluem o pensamento: entre as igrejas baseadas sobre a fé cega e as escolas que decretam os dogmas das nossas novas crenças científicas.
O pensador não é o homem que sabe muito. Não tem a memória sobrecarregada de lembranças que estorvam. É um espírito livre, que não é necessário catequizar nem doutrinar.
(...)
Repugnam à Maçonaria frases e fórmulas, das quais se apoderam espíritos vulgares para se ataviarem de todos os ouropéis de um falso saber. – Quer obrigar os seus adeptos a pensar e não propõe, em conseqüência, seu ensinamento senão velado sob alegorias e símbolos. Convida a refletir, para que se possa chegar a compreender e a adivinhar.
Esforçai-vos pois, meus IIrm:., para vos mostrardes adivinhos, no sentido mais elevado da palavra. – Não sabereis em Maçonaria senão aquilo que por vós mesmos encontrardes.
(...)”
BIBLIOGRAFIA
ASLAN, Nicola, Comentários ao Ritual de Aprendiz – Vadimecum Iniciático. 3.ed. Londrina: Ed. Maçônica “A TROLHA”, 2006.
PLATÃO, Os Pensadores. Ed. Nova Cultural, 2006.
DESCARTES, René, Discurso do Método. Ed. Martin Claret, 2005.
Caríssimo Ir:. Charles,
ResponderExcluirvocê está de parabéns pela excelente peça de arquitetura produzida. Continue sempre assim, pois necessitamos de bons e dedicados obreiros nas nossas fileiras.
Muita Luz!
Antônio Padilha de Carvalho